1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Fronteira da Otan com Rússia dobra com ingresso da Finlândia

4 de abril de 2023

Num revés para Putin, entrada da Finlândia na aliança militar é oficializada. Stoltenberg diz que Kremlin queria menos Otan, mas terá mais.

https://p.dw.com/p/4PgBt
Soldado finlandês caminha ao largo de cerca na fronteira entre a Finlândia e a Rússia, perto da cidade de Imatra, em novembro de 2022
Boa parte da fronteira entre a Finlândia e a Rússia é de florestasFoto: Alessandro Rampazzo/AFP/Getty Images

A fronteira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) com a Rússia dobrou em extensão nesta terça-feira (04/04), para 2.600 quilômetros, com o ingresso da Finlândia na aliança militar. O 31º e novo membro tem uma fronteira de 1.340 quilômetros com a Rússia, no norte da Europa.

Do Mar de Barents, no norte, até o Golfo da Finlândia, no sul, essa fronteira praticamente desprotegida passa sobretudo por florestas e é pouco habitada.

O anúncio do ingresso da Finlândia na Otan foi feito nesta segunda-feira pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e será oficializado numa reunião de cúpula dos ministros do Exterior da aliança, em Bruxelas, nesta terça.

A adesão da Finlândia à Otan é um grande revés para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que tem como uma de suas prioridades impedir a expansão da aliança militar ocidental. "O Kremlin queria menos Otan, mas vai ter justamente o contrário", destacou Stoltenberg.

Exército de ponta

Detalhes da integração da Finlândia à Aliança Atlântica ainda não foram acertados, até porque um novo governo está em formação no país. Resta saber, por exemplo, se haverá militares de outros países-membros em território finlandês ou se o governo vai aceitar que bombas nucleares sejam estacionadas no país.

A Otan considera que os militares finlandeses não necessitam de ajuda para proteger suas fronteiras. O serviço militar é obrigatório na Finlândia, que tem cerca de 24 mil militares na ativa e 900 mil na reserva. Se necessário, Exército, Marinha e Aeronáutica teriam imediatamente 280 mil homens e mulheres aptos para o combate.

Placa de "pare" na fronteira da Finlândia com a Rússia
Placa de "pare" na fronteira da Finlândia com a RússiaFoto: Teri Schultz/DW

Esse é um número relativamente grande para uma população de 5,5 milhões de pessoas. "A Finlândia não reduziu seus investimentos nas Forças Armadas com o fim da Guerra Fria", observou o secretário-geral da Otan.

Stoltenberg salientou que o novo membro fortalece a aliança. A Aeronáutica finlandesa, por exemplo, vai contribuir com 60 modernos aviões de caça para a proteção do território da Otan. Os militares finlandeses estão no mesmo nível dos da Otan e podem ser imediatamente integrados, afirma a aliança.

Rússia reage

Mesmo como país neutro ao longo de décadas, a Finlândia manteve um elevado contingente militar, com base na experiência da Guerra de Inverno de 1939/40, diz o especialista em Defesa Jacob Westberg. Na época, a Finlândia perdeu para a União Soviética 10% do seu território.

Em Moscou, o vice-ministro do Exterior, Alexander Grushko, anunciou que, em resposta ao ingresso da Finlândia na Otan, a Rússia vai aumentar sua presença militar no noroeste do país.

"É um novo agravamento da situação. A expansão da Otan é um atentado à nossa segurança e aos nossos interesses nacionais", afirmou a presidência russa, por sua vez. "Isso nos obriga a adotar contramedidas."

Especialistas avaliam que a eminente troca de governo na Finlândia, depois da derrota dos social-democratas, não deverá ter qualquer efeito no ingresso do país com a Otan, já que essa questão é consensual entre os partidos políticos.

"A política da Finlândia para a Rússia vai se basear cada vez mais na dissuasão em detrimento do diálogo", comenta a especialista em segurança Minna Alander, em entrevista à Redaktionsnetzwerk Deutschland, a redação conjunta de vários jornais regionais alemães.

E a Suécia?

O ingresso da Finlândia foi o mais rápido nos 74 anos de existência da Otan. O pedido foi feito em conjunto com a Suécia, em maio de 2022, mas encontrou resistência no governo da Turquia. No fim de março deste ano, a Turquia finalmente destravou o processo de adesão.

Stoltenberg disse esperar que a Suécia também se una à aliança militar em breve e conclamou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a rever seu veto, argumentando que a Suécia cumpriu todas as exigências que lhe foram feitas. A Turquia exige a extradição de dissidentes curdos, classificados pelo governo em Ancara de terroristas.

Para Westberg, a entrada da Suécia seria um ganho tanto militar quanto político para a Otan. "Ficaria mais difícil para a Rússia operar no Mar Báltico. A Suécia tem cinco submarinos muito modernos, que complementariam a frota da Polônia e Alemanha", afirma.

Apesar do bloqueio, a Suécia ainda espera ingressar na Otan antes da próxima cúpula da organização, em Vilnius, em julho. Já Stoltenberg disse não ter dúvidas de que a Suécia será o 32º Estado-membro, mas ainda há questões a serem resolvidas com Ancara.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.