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"Natal da miséria": Angolanos chamados a "baterem panelas"

Borralho Ndomba
24 de dezembro de 2023

Este Natal será difícil para muitas famílias em Angola, com a vida cada vez mais cara no país. Nesta quadra festiva, os angolanos sãos chamados a "baterem as panelas" em protesto contra o chamado "Natal da miséria".

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Natal em Angola
"Estamos [em Angola] a passar o pior Natal dos últimos 20 anos", lamenta o ativista Jerónimo NsinsaFoto: Borralho Ndomba/DW

Em Angola, os produtos da cesta básica já estavam caros, mas nesta quadra festiva os preços são proibitivos para grande parte dos consumidores.

Muitas famílias não têm dinheiro suficiente para comprar o básico para a ceia de Natal. A técnica de análises clínicas Mariana Mário diz que não se lembra de um ano assim.

"As coisas estão muito caras. A pessoa pode ter 50 mil kwanzas [54 euros] para fazer as compras, mas com este valor não consegue levar grande coisa para casa. Anteriormente, num dia como hoje, as pessoas já teriam o stock preparado com refrigerantes e outras coisas. Acho que a maioria não tem nada", lamenta.

Em novembro, a inflação acelerou para 18,19% em comparação com o ano anterior. E deverá continuar a subir neste mês e no próximo ano, de acordo com as previsões dos economistas.

"Não conseguimos colocar comida na mesa"

"Está mesmo difícil. A cesta básica sobe a cada dia. A caixa de frango está a 16 mil kwanzas [17 euros]. Já não conseguimos colocar comida na mesa. Este Natal é mesmo uma seca. Não é mais como as festas de Natal anteriores em tínhamos quase tudo para festejar com a família e amigos. Desta vez, cada um ficará na sua casa porque não há nada."

Marcelina Domingas, do grupo de mulheres do Lubango (Huíla) que dependem da exploração de inertes para o seu sustento, diz que, neste Natal, vai continuar o negócio.

Mercado informal em Angola
Em novembro, a inflação acelerou para 18,19% em comparação com o ano anterior e deverá continuar a subir, de acordo com previsões dos economistasFoto: José Adalberto /DW

"Se aparecer um cliente e conseguir vender um monte de brita, mando o dinheiro para as crianças comprarem fuba para o almoço. À tarde, se aparecer mais alguém, o dinheiro vai para o jantar", conta.

É por causa destas dificuldades que um grupo de organizações e personalidades da sociedade civil convocou um protesto para a noite de 25 de dezembro, contra o que chamam de "Natal da miséria".

"O pior Natal dos últimos 20 anos"

O ativista Jerónimo Nsinsa é um dos promotores da iniciativa, em que os cidadãos são chamados a baterem as panelas, para alertar para a pobreza no país.

"Estamos a passar o pior Natal dos últimos 20 anos. O nosso Presidente tem de ouvir o nosso grito. Cada um deverá fazer este protesto na sua casa, na sua mesa, fazendo uma fotografia e vídeo para mostrar o nosso Natal pobre", apela Nsinsa.

O ativista diz que a maioria dos angolanos não tem motivos para celebrar o Natal.

"Exceto aqueles que se beneficiam com a ditadura, esses é que terão um Natal condigno. Imagine o angolano que come no contentor de lixo. Se nos dias normais não tem o que comer, como poderá celebrar o Natal?", questiona.

O protesto convocado para 25 de dezembro será também em solidariedade com os ativistas Adolfo Campos, Abraão Pedro Santos, Gilson Moreira, Hermenegildo Victor José e a influencer digital Neth Nahara, todos condenados por crimes de ultraje ao Presidente da República.

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