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Mali: Junta militar está a tentar livrar-se da MINUSMA?

Isaac Kaledzi
15 de julho de 2022

Analistas temem que o Mali queira cortar os laços com os seus parceiros depois de ter suspendido as rotações das tropas da missão de manutenção da paz da ONU, MINUSMA.

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Mali | MINUSMA | Friedenstruppen | UNPOL
Foto: Nicolas Remene/Le Pictorium/IMAGO

A junta militar do Mali está apostada em rever a sua relação com os seus parceiros tradicionais, que ajudaram a estabilizar a situação de segurança na nação da África Ocidental, assolada por insurreições desde 2012.

A decisão do país de suspender as rotações das tropas pela missão de manutenção de paz das Nações Unidas levantou questões sobre como a intenção de alterar os termos do compromisso com os aliados. efeito contrário.

Missão Multidimensional de Estabilização Integrada da ONU no Mali, MINUSMA, criada em Abril de 2013 pela Resolução 2100 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem vindo a rotacionar tropas que servem nessa missão há anos.

O Governo militar quer agora pôr fim a esse procedimento, na sequência da detenção de 49 tropas costa-marfinenses que chegaram ao aeroporto de Bamako a bordo de um voo especial esta semana.

A Costa do Marfim tinha dito que os soldados faziam parte da quinta rotação MINUSMA, mas a junta militar do Mali descreveu-os como "mercenários" que procuraram derrubá-la.

Na quinta-feira (14/07), o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, disse que a decisão do Mali teria consequências desastrosas para as tropas atualmente ao serviço da missão, uma vez que parte do pessoal deveria ter sido dispensado há vários meses.

"A rotação dos contingentes é muito importante para a eficácia operacional da missão e para a segurança do pessoal", disse Haq.

A suspensão da rotação das tropas é 'perigosa'.

Missão da ONU no Mali| Französische Truppen
Missão da ONU no Mali, em setembro de 2021: luta contra grupos terroristas armados jihadistas Foto: Speich Frédéric/Maxppp/dpa/picture alliance

O perito em segurança e diretor executivo do Centro Contra o Extremismo da África Ocidental (WACCE), Mukhtar Mumuni Muktar, disse à DW que a abordagem dos líderes militares do Mali para suspender o programa de rotação é "perigosa".

"Se o objetivo é cortar laços com a missão da ONU, e cortar laços com a França e is parceiros externos ligados à França, então é uma jogada perigosa", afirmou Muktar, que receia que o Mali se esteja a preparar para expulsar a missão militar internacional do país.

O analista refere que a estratégia do regime militar do Mali pode expor os cidadãos comuns a maior perigo caso a segurança fique comprometida.

O Mali está atualmente a combater uma insurreição islamista que surgiu após a revolta tuaregue em 2012 e que, desde então, se alastrou aos países vizinhos. Este golpe matou milhares de pessoas e fez milhões de deslocados. 

Originalmente um porta-voz da MINUSMA confirmara que os soldados marfinenses faziam parte do contingente de rotação. Na quinta-feira, a ONU em Nova Iorque admitiu qe as tropas em questão não tinham sido destacadas ao abrigo da convenção.

O direito do Mali à soberania

O analista Jonathan Offei-Ansah, disse à DW compreender que os líderes militares do Mali desconfiem da presença das tropas da Costa do Marfim e não que não deviam ser criticados por procurarem ter uma visão firme do sistema de segurança do país.

"É apenas uma questão de cautela", disse Offei-Ansah. Para ele, justifica-se que o Mali tenha um cuidado extra em relação a quem entra no seu território, uma vez que faz esforços para combater os extremistas.

O Governo de Berlim pretende manter os soldados alemães no Mali
O Governo de Berlim pretende manter os soldados alemães no MaliFoto: Thomas Wiegold/photothek/picture alliance

"A situação de segurança naquele país é terrível. Por isso penso que o Mali tem razão em recorrer a essas medidas preventivas", disse Offei-Ansah.

A junta militar do Mali, que tomou o poder num golpe de Estado em Agosto de 2020, foi sujeita a sanções e condenação da União Europeia por adiar as eleições. O Governo tem também sido criticado por cooperar com mercenários russos desde que França retirou as suas tropas do país.

Offei-Ansah defende que o regime limitar não deveria ser condenado pela forma como lidou com a crise de segurança. 

"Após tantos anos de manutenção da paz, após tantos anos de tropas estrangeiras no país, não foi possível contes os jihadistas. Por isso, se o Governo sente que tem capacidades próprias para combater a insurreição jihadista, assim seja", disse Offei-Ansah.

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A luta contra os jihadistas requer parcerias mais fortes

Muktar argumenta que o Mali estaria a prejudicar-se se resolvesse cortar por completo os laços com os seus parceiros tradicionais.

"É uma situação perigosa, porque sem estes parceiros a situação no Mali poderia ter sido pior"

O governo militar comprometeu-se a realizar eleições até Março de 2024, após meses de sanções económicas por tentar prolongar o processo de transição.

A junta militar no poder desde Agosto de 2020 tem estado em desacordo com os vizinhos regionais e internacionais sobre os seus programas de transição.

Muktar disse que o Governo ainda não está devidamente constituído para para garantir estabilidade e segurança, e deve ser cauteloso na forma como lida com os seus vizinhos e outros parceiros.

"Há um enorme orçamento militar que é apoiado pelos seus parceiros. Cortar os laços coloca o Mali na situação difícil de ter de financiar os seus próprios programas de segurança. Teria assim de fazer malabarismos para satisfazer as necessidades e aspirações de desenvolvimento do povo. É  uma situação complexa", explicou Muktar.

De acordo com Offei-Ansah, independentemente da estratégia pela qual optar, o Mali precisa de manter um relacionamento cordial com os seus vizinhos, já que "nenhum país é uma ilha", e as atividades dos jihadistas não se limitam ao Mali, estando a espalhar-se por todo o Sahel.

Para Offei-Ansah, o Mali deve evitar alinenar não só os seus parceiros internacionais, mas também os seus vizinhos na sub-região da África Ocidental.

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