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Dinheiro nas malas de Lussati "não era da Casa de Segurança"

12 de outubro de 2022

General "Kopelipa" diz que os milhões de kwanzas e divisas encontrados na posse do major Lussati não pertenciam à Casa de Segurança. Em tribunal, disse também que nunca foi informado sobre casos de má gestão dos fundos.

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Foto: DW/B. Ndomba

O "homem forte" do regime de José Eduardo dos Santos, o general Manuel Hélder Vieira Dias, "Kopelipa",  falou esta quarta-feira (12.10) em tribunal sobre a gestão financeira da Casa de Segurança do Presidente da República, órgão que dirigiu de 1995 a 2017.

Tal como os outras testemunhas arroladas no julgamento do caso Lussati, "Kopelipa" disse que foi através da imprensa que tomou conhecimento sobre a história do escândalo financeiro na Casa de Segurança da Presidência angolana. 

"Enquanto exercia as funções de chefe da Casa de Segurança, nunca fui informado sobre desvio de dinheiro", garantiu.

O general confirmou que aprovava os orçamentos do órgão, mas a execução dependia do então secretário-geral da Casa de Segurança, o tenente-general Luís Ernesto Simão, ouvido pelo Tribunal Provincial de Luanda em finais de setembro.

"Não era dinheiro da Casa de Segurança"

Para Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa", os milhões de kwanzas e divisas encontrados em malas na residência do arguido Pedro Lussati não poderiam ser dinheiro da Casa de Segurança. "A Casa de Segurança não tinha orçamento em divisas", explicou.

"Caberá ao senhor Lussati justificar a proveniência daquele dinheiro. Do meu conhecimento, julgo que aquele dinheiro não é da Casa de Segurança."

Angola Gericht "Fall Lussati"
Seguranças à espera de "Kopelipa" após o general ser ouvido em tribunalFoto: Borralho Ndomba/DW

Em setembro, o então secretário-geral da Casa de Segurança também afirmou que o dinheiro não era da instituição e que Lussati não era financeiro deste departamento militar.

Financiamento de ativistas?

Ouvido pelo tribunal durante mais de duas horas, "Kopelipa" disse também desconhecer a existência de trabalhadores-fantasma nas diferentes unidades da Casa de Segurança do Presidente da República.

Um dos réus, Manuel Correia, relatou em tribunal que a Casa de Segurança financiava ativistas políticos do partido no poder, o MPLA, bem como a FLEC/FAC. Mas o general respondeu que este não é o papel deste órgão castrense.

No final do interrogatório, o general recusou falar à imprensa. 

Já Francisco Muteka, advogado de Pedro Lussati, diz ter ficado satisfeito com as declarações da testemunha: "A defesa não está surpreendida, naturalmente, porque o general apenas explicou factos relativos ao processo, de que teve conhecimento no exercício das suas funções."

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Para o advogado, tudo ficou explicado. "Com as declarações de hoje, do general Kopelipa, ficou esclarecido que o dinheiro encontrado na residência de Pedro Lussati é do major Pedro Lussati. Ponto final. A Casa de Segurança nunca fez pagamentos em divisas."

Francisco Muteka confia que a produção de provas neste processo vai ditar a absolvição do major angolano.

Pedro Lussati será absolvido da instância deste processo, porque se comprova aqui em sede do tribunal que Pedro Lussati é inocente dos factos de que é acusado", disse Muteka.

Advogado já não quer ouvir irmão do Presidente

Entretanto, a defesa do coronel Manuel Correia, ex-comandante do Batalhão de Transporte e Desminagem, adstrito à Casa Militar no Cuando Cubango, dispensou a audição do atual chefe adjunto da Casa de Segurança, Sequeira João Lourenço, irmão do Presidente angolano.

"Depois da audição de Sua Excelência, o general 'Kopelipa', e por tudo o que disse, e o facto, principalmente, de ter dito que a responsabilidade financeira era exercida pelos secretários-gerais, com toda a autonomia, achei que as perguntas que poderiam ser feitas a esta testemunha estavam muito longe de ser respondidas nos termos em que eu previa", afirmou o advogado do arguido, Evaristo Maneco.

O major Pedro Lussati é arguido num megaprocesso que envolve 49 réus e mais de 200 testemunhas. Em junho do ano passado, a chamada "Operação Caranguejo" desmantelou um esquema que envolvia pagamentos fraudulentos a partir da folha salarial da Casa de Segurança da Presidência da República através do qual terão sido desviados do erário público 62 milhões de dólares (cerca de 59 milhões de euros).