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Generais da RENAMO voltam a exigir afastamento de Momade

Arcénio Sebastião (Beira)
15 de abril de 2023

Os generais da RENAMO pronunciaram-se hoje na Beira sobre seu descontentamento com processo de DDR e com raptos e assassinatos de membros e desmobilizados. Exigem o afastamento incondicional do seu líder, Ossufo Momade.

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Mosambik: Ossufo Momade, Chef der größten Oppositionspartei RENAMO
Foto: Getty Images/A. Barbier

Um grupo composto por oito generais da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) provenientes de todo país solicitou este sábado, na Beira, capital de Sofala, centro de Moçambique, a renúncia incondicional do presidente do partido, Ossufo Momade.

Alegam "incapacidade" do mesmo em liderar o maior partido da oposição moçambicana. Na mesma ocasião, os membros do conselho nacional do partido foram instados a convocar um congresso extraordinário de emergência para a eleição de um novo presidente da RENAMO.

"Nós já não queremos [Ossufo Momade], ele já não é presidente da RENAMO. Nós guerrilheiros o afastamos. Os membros [do partido] também não o querem. Se ele insistir, vamos pedir ajuda aos embaixadores, como ao líder de grupo de contacto, Mirko Manzoni", disse Josefo de Sousa durante a leitura do comunicado chancelado por Timosse Maquinze, chefe do estado maior da RENAMO actualmente desmobilizado no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) de homens do partido de oposição.

"Se prevalecer, vamos tirá-lo a força tal como o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, e vários outros presidentes africanos foram tirados. Temos força suficiente para tal e este é um dos primeiros passos", acrescentou Maquinze num discurso feito em língua Chitewe, predominante na cidade de Chimoio.

A posição foi tornada pública este sábado (15.04), através de uma conferência de imprensa na residência de Timosse Maquinze, antigo chefe de estado maior da RENAMO, atualmente desmobilizado no âmbito do DDR.

Ossufo Momade
Ossufo Momade, líder do partido moçambicano RENAMO, é acusado de autoritarismo no seio do partidoFoto: Roberto Paquete/DW

"Sem consulta à ala militar"

Maquinze relembrou que Momade foi indicado ao cargo de coordenador interino da RENAMO após a morte de Afonso Dhlakama sem consultar a ala militar, que garante a disciplina partidária.

O mesmo disse ainda que, quando Momade foi eleito líder, ele "destruiu toda estrutura do estado maior general", tendo, na altura, "posto refém alguns generais da confiança do falecido Afonso Dhlakama".

"De lá para cá, ele foi atropelando todos os acordos que [Dhlakama] tinha feito. Estamos cansados - o presidente Ossufo Momade abandonou os princípios que nortearam as negociações tendo adaptado um estilo de liderança que não ajuda alcançar os objetivos políticos da RENAMO",dizem.

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"Autoritário"

"Autoritariamente, introduziu o método de indicação de estruturas de base e violou grosseiramente os princípios democráticos", acrescentam.

Timosse Maquinze assegurou ainda, em nome dos combatentes presentes e não-presentes, que não deve haver mais guerra movida pelos combatentes da RENAMO.

"Exigimos que o presidente Momade se demita das funções de presidente da RENAMO, comprovada a incapacidade do mesmo em liderar o partido", disse.

Durante a conferência de imprensa, o presidente da RENAMO foi apontado como alguém que está ao serviço da FRELIMO e a facilitar todas alegadas "manobras" do partido no poder.

Bildkombo Mosambik Ossufo Momade Filipe Nyusi
Ossufo Momade e Filipe Nyusi (foto de arquivo)

"Anular as distritais"

"Constatamos que o presidente Ossufo não tem vontade de reagir quanto ao 'apetite' do Presidente da República [Filipe Nyusi] de 'rasgar a Constituição da República'".

"Deixa a FRELIMO ao seu belo prazer [e com os seus] objetivos claros de anular o processo das eleições distritais - que é uma das grandes conquistas da luta da RENAMO - e de introduzir um terceiro mandato do candidato e presidente da FRELIMO", criticam.

Os combatentes da RENAMO esperam, com a apresentação das indignações, não serem mal interpretados, daí reiterarem o não retorno à guerra.

"Esperamos também que a nossa indignação com o presidente Ossufo Momade seja entendida como única forma interna e pacífica encontrada para alavancar e organizar o nosso partido", dizem.

"Somos pela paz, reconciliação nacional e desenvolvimento do país", dizem.

A DW África tentou contatar a RENAMO por telefone, mas sem resposta.

Entretanto, Domingos Gundana membro da comissão de contacto para assuntos de desmobilizados da RENAMO, reagiu e disse hoje à imprensa moçambicana que as alegações dos guerrilheiros são falsas.

"Isso é normal sempre que se aproximam eleições: há membros que procuram desestabilizar o partido", afirmou Gundana. 

Não é a primeira vez que membros da RENAMO pedem a saída de Momade. Em outras ocasiões, Momade foi também acusado de má gestão e clientelismo dentro da RENAMO, a maior força política da oposição em Moçambique.

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