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Sem munição dos EUA, defesa da Ucrânia ameaça colapsar

Frank Hofmann | Mykola Berdnyk
20 de abril de 2024

Oficial de artilharia ucraniano descreve situação como dramática. Sem o fornecimento americano, tropas não conseguem responder fogo russo, soldados de Putin avançam, e front corre risco de desmoronar.

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Clarões de disparo de artilharia com silhueta de soldados em foto noturna em área com árvores
Ucranianos no front dizem não ser possível responder fogo com fogo, devido á falta de muniçãoFoto: Libkos/AP/dpa/picture alliance

O oficial de artilharia na linha de frente no leste da Ucrânia resume rapidamente a situação: "sem munição de artilharia, toda frente está condenada", diz o homem à DW. Suas descrições atuais do que se passa no front são desanimadoras diante da falta de munição que sofrem as Forças Armadas ucranianas. O oficial deseja permanecer anônimo. A patente, o nome e o cargo do comandante de uma unidade de artilharia ucraniana são conhecidos pela DW.

Disparos russos em massa

"As perdas aumentarão porque não é possível responder adequadamente fogo com fogo." Os atacantes russos, por outro lado, podem disparar de forma massiva. Os soldados ucranianos estão sendo cobertos com fogo de barragem da artilharia russa. Os caças russos bombardeiam as posições ucranianas com bombas planadoras – disparadas de uma distância segura, mais atrás da linha de frente, fora do alcance das defesas aéreas ucranianas, que, de qualquer forma, são igualmente insuficientes.

"Em algum momento nos encontraremos em uma situação em que mais ninguém vai conseguir defender a frente – todos estarão mortos ou feridos", diz o oficial. E ele deixa claro o que espera. O resultado seria "a perda de posições e uma frente desmoronada".

As descrições da frente ucraniana são apoiadas por uma análise recente do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), dos EUA. De acordo com ela, os atacantes russos estão "avançando lentamente, mas de forma constante, em vários setores do front".

Russos ganham área do tamanho de Detroit

De acordo com um cálculo do ISW de meados de abril, as Forças Armadas russas conquistaram "mais de 360 quilômetros quadrados desde o início do ano – área do tamanho de Detroit", a maior cidade do estado americano de Michigan, escreve o ISW em uma análise recente.

Na atual situação, o risco de a Ucrânia perder diante das tropas do presidente russo, Vladimir Putin, é o maior desde o início da guerra, em 2022, segundo o ISW. Em outras palavras, sem um suprimento substancial de armas e munições dos países ocidentais que apoiam Kiev. O diretor da CIA, Bill Burns, e Christopher Cavoli, comandante das Forças Armadas dos EUA na Europa, deixaram isso claro em declarações dadas neste mês em Washington.

"Há um risco muito real de que os ucranianos percam no campo de batalha até o final de 2024 ou, pelo menos, Putin chegue a uma posição em que possa ditar os termos de um acordo político", disse Burns durante um discurso que fez na capital americana, de acordo com relatos da mídia dos EUA.

Reação só é possível com suprimentos dos EUA

O decisivo, segundo Burns, é que os EUA entreguem os suprimentos rapidamente agora. Isso, por sua vez, daria à Ucrânia uma boa chance de "resistir" neste ano.

O fato de o chefe da CIA, Burns, falar atualmente em "resistir" aponta para a esperança de que Kiev, em algum momento, possa aumentar sua produção bélica a tal ponto que a Ucrânia seja capaz de se defender a longo prazo. E também que seja estabelecida uma força aérea através da assistência ocidental. Desde 2023, pilotos ucranianos têm sido treinados para atuarem em caças F-16 dos EUA. Mas o treinamento vem sendo realizado há muito mais tempo do que previam os especialistas militares da Otan.

Em resposta a uma pergunta enviada por escrito pela DW sobre a capacidade operacional do F-16 e o progresso do treinamento de pilotos ucranianos em países europeus da Otan, como Romênia, Reino Unido ou França, o porta-voz da Força Aérea ucraniana não quis responder em detalhes. "Essa é uma questão muito delicada", escreve, argumentando que não pode dizer nada sobre o assunto.

Pilotos ucranianos têm baixo nível de inglês

O comandante das forças americanas na Europa, Christopher Cavoli, disse recentemente, durante uma visita a Washington, que os pilotos ucranianos, em geral, não têm conhecimentos de inglês.

Assim como o chefe da CIA, Cavoli apresenta um quadro sombrio da situação dos ucranianos no front. Embora ele "não possa prever o futuro", pode "fazer cálculos simples", disse o general do Comando Europeu das Forças Armadas dos EUA (EUCOM). "Em minha experiência de mais de 37 anos nas Forças Armadas dos EUA, se um lado pode atirar e o outro não pode revidar, o lado que não pode revidar perde."

Jato F-16
Treinamento de ucranianos em jatos F-16 demora mais tempo do que o previsto pela OtanFoto: Sgt. Heather Ley/U.S. Air Force/AP Photo/picture alliance

Após meses de bloqueio dos republicanos e de intensos apelos de Kiev, a Câmara dos Representantes dos Estado Unidos aprovou neste sábado (20/04) um pacote de ajuda à Ucrânia no valor de 61 bilhões de dólares. Além do dinheiro para o orçamento ucraniano e para a ajuda econômica, 51,7 bilhões de dólares são destinados ao fornecimento de munição e armas, de acordo com um comunicado à imprensa emitido pelo primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, após sua recente visita aos EUA.

O pacote segue agora para aprovação no Senado, o que deve ocorrer na terça-feira e é dado como certo, já que os democratas detêm a maioria apertada na casa. 

Sucessos ucranianos ofuscam real situação

O quanto o rápido fornecimento de munição dos EUA é vital para a Ucrânia nessa fase da guerra é um fato repetidamente ofuscado por relatos de sucessos da Ucrânia, especialmente em plataformas de mídia social. Neste mês, o país anunciou a derrubada de um bombardeiro supersônico russo Tupolev Tu-22M3 pela primeira vez. Também foram atingidas novamente posições de radar na península da Crimeia ocupada pela Rússia, que Moscou usa para organizar suprimentos para suas tropas no sul da Ucrânia.

No entanto, esses ataques parecem ser apenas alfinetadas em comparação com a enorme pressão russa no front e pelo ar, como os recentes ataques à cidade de Chernihiv, 70 quilômetros a nordeste da capital Kiev, ou o bombardeio regular da segunda maior cidade ucraniana de Kharkiv, no nordeste, na fronteira com a Rússia.

Putin quer tomar Chassiv Yar antes de 9 de maio

Após uma visita à frente de batalha, o comandante-chefe dos soldados ucranianos, Oleksandr Syrskyj, escreveu no serviço de mensagens Telegram que a Rússia está atualmente concentrada em "romper nossas defesas a oeste de Bachmut, obter acesso ao canal Siversky-Donets-Donbass, capturar o assentamento de Chasiv Yar e criar as condições para um avanço maior em direção à área de Kramatorsk".

O povoado de Chasiv Yar fica em uma colina que oferece vantagens para os defensores ucranianos. Syrskyj escreve no Telegram que a captura dessa posição é uma ordem de Putin para as Forças Armadas russas, "até 9 de maio". É nessa data que Putin comemora o aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazista.

O especialista em segurança alemão e especialista em Ucrânia Nico Lange escreveu em uma análise recente que a Ucrânia "não pode manter a linha de frente no leste, podendo apenas retardar o avanço russo".

Especialmente por meio do uso de drones equipados com dispositivos explosivos. "Mas drones não substituem artilharia", alerta o oficial de artilharia entrevistado pela DW no leste da Ucrânia. O fator decisivo é se ele e seus homens receberão suprimentos de munição agora – o mais rápido possível.