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Escassez de mão de obra qualificada se agrava na Alemanha

Dirk Kaufmann
1 de abril de 2023

Apesar de a economia alemã ter resistido a diversas crises, mais de dois milhões de pessoas estão em busca de emprego, ao mesmo tempo em que falta quase o mesmo número de trabalhadores especializados no país.

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Trabalhador estrangeiro na linha de montagem de uma fábrica alemã
Falta de profisionais qualificados atinge diversos setores da economia alemã Foto: Imago Images/photothek/T. Trutschel

A economia alemã parece ter superado as consequências da pandemia de covid-19 e se ajustado bem à guerra da Ucrânia e aos custos gerados pelo conflito. A crise bancária nos Estados Unidos e na Suíça também não impactou economicamente o país. Os temores quanto a uma possível recessão foram afastados e o mercado de trabalho vem se mantendo agradavelmente estável.

Mas, dois estudos publicados nos últimos dias alertam para uma ferida ainda aberta: a escassez de trabalhadores qualificados na Alemanha.

O Instituto da Economia Alemã (IW) revelou em um estudo intitulado Relatório sobre o Trabalho Qualificado - Dezembro de 2022 que a falta de trabalhadores especializados se mantem em alta, embora tenha diminuído levemente no período avaliado.

Ao mesmo tempo, outro documento semelhante, o Relatório do Trabalho Qualificado 2022, elaborado pela Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), alerta que "a escassez de mão de obra qualificada está aumentando".

Escassez em vários setores

O especialista da DIHK em mercado de trabalho Stefan Hardege afirmou à DW que o problema não atinge mais somente um setor específico. "Isso é agora um problema que existe em diversas áreas, muitas profissões diferentes são afetadas."

Sabine Köhne-Finster, coautora do estudo do IW, observa que o setor social é gravemente afetado pelo problema, com a falta de profissionais como pedagogos sociais, trabalhadores sociais e educadores, e que a carência maior está nas áreas da enfermagem e dos cuidados aos idosos.

Em outros setores, como na indústria metalúrgica e no setor energético de geração de eletricidade, faltam especialistas e trabalhadores com formação universitária. "É onde estão faltando mais profissionais, e a situação está piorando", afirmou.

Paradoxo persistente

Stefan Hardege destaca um paradoxo que vem sendo observado há anos. "Quando observamos o número de desempregados na Alemanha, cerca de 2,5 milhões, e as muitas vagas ociosas, nos perguntamos porque essas duas coisas não se encaixam."

Ele mesmo propõe uma resposta a essa pergunta. "Com frequência, vemos que as qualificações dos desempregados não correspondem àquelas que as empresas procuram."

Um argumento frequentemente utilizado nesse caso é o de que os trabalhadores são não apenas mal treinados, mas às vezes também "preguiçosos", sendo que muitos dos jovens não querem trabalhar oito horas por dia.

Hardege argumenta que os trabalhadores estão atualmente em uma posição vantajosa e podem exigir melhores condições de trabalho ou salários mais altos, mas diz que nada indica que este seja o motivo da escassez no mercado de trabalho.

Possíveis soluções

Köhne-Flnster diz que os próprios empregadores poderiam ajudar a resolver o problema, mas que para isso, deve haver flexibilidade. "Devemos observar: 'como mudaram algumas das profissões? Há outras que talvez sejam similares? Posso ajudar a superar a escassez de mão de obra qualificada através da reeducação e do cruzamento com outras profissões?'"

No que diz respeito às políticas governamentais, ela elogia, de modo geral, os "esforços para permitir a imigração de trabalhadores qualificados" para a Alemanha, mas também defende o reforço dos treinamentos profissionais. Isso, segundo diz, deve ter como foco principal o "fortalecimento da orientação profissional nas universidades, escolas e centros vocacionais".

Stefan Hardege, por sua vez, analisa de maneira um pouco diferente. Ele diz que deve haver abordagens variadas. "Lidar com a falta de trabalhadores qualificados é, primeiramente, uma tarefa das empresas, como através de soluções flexíveis e boas ofertas de emprego."

"As empresas tentam se posicionar de maneira mais atraente, de modo a conquistar esses trabalhadores com ofertas de qualidade para tornar compatíveis a carreira profissional e a vida familiar ou permitir o trabalho remoto, o que é, de fato, muito importante", observou.

Mas, para que isso seja possível é fundamental haver as condições políticas adequadas.

Facilitar a imigração

Em 29 de março, o governo federal propôs uma nova lei para reorganizar a política de imigração, em particular, facilitando a chegada ao país de especialistas estrangeiros. Hardege considera isso uma medida fundamental.

"É positivo e correto que o governo federal tenha encaminhado agora essa lei, que vai na direção certa em muitas áreas", observou.

Os dois especialistas concordam que a implementação dessa nova legislação será importante. Hardege, porém, adverte que as novas regras devem funcionar bem e com rapidez, e que deverão ser criadas as estruturas necessárias para que isso seja possível.

Mas, a entrada de trabalhadores estrangeiros qualificados, por si só, não deve resolver o problema. Segundo o especialista da DIHK, deve-se tomar cuidados especiais para não deixar para trás os trabalhadores alemães. "Temos que assegurar que possamos fazer melhor uso do potencial doméstico; a chave disse seriam as mulheres e as pessoas de mais idade".

É necessário lidar com a questão da mão de obra especializada estrangeira ao mesmo tempo em que se observa a situação dos trabalhadores alemães. "Isso poderá não ser suficiente, tendo em vista a evolução demográfica", diz o especialista.