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As principais decisões do G7 em Hiroshima

22 de maio de 2023

Cúpula foi dominada por dois temas: a guerra na Ucrânia e uma nova estratégia para lidar com a China.

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O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski (centro), posa para uma foto ao lado dos líderes do G7 e da UE antes de uma sessão de trabalho sobre a Ucrânia durante a cúpula do grupo em Hiroshima, Japão, em 21 de maio de 2023.
Zelenski em meio a líderes do G7 e da União EuropeiaFoto: Susan Walsh/REUTERS

O G7, grupo informal que reúne chefes de Estado e de governo de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mostrou-se unido na abordagem para a China e a Rússia, os dois principais temas da cúpula que ocorreu no fim de semana passado em Hiroshima.

Estes foram os principais temas e as principais decisões do encontro:

Guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia foi, como esperado, o tema dominante da cúpula do G7 em Hiroshima, ainda mais com a presença do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na cidade japonesa.

Antes mesmo de o encontro começar, na sexta-feira (19/05) a Casa Branca deu o tom dos debates ao comunicar que apoia uma iniciativa conjunta para treinar pilotos ucranianos para aviões de combate de quarta geração, incluindo os F-16, insistentemente pedidos pela Ucrânia, e acrescentou que, "enquanto o treino decorrer, nos próximos meses, a nossa coligação de países participantes nesta iniciativa decidirá quando fornecer aviões, quantos, e quem os fornecerá".

Zelenski chegou a Hiroshima no sábado. Ele se reuniu com Biden no domingo. O presidente americano lhe reafirmou o apoio dos EUA. Já antes da reunião bilateral, Biden havia anunciado o fornecimento de novas armas e munições à Ucrânia. Um alto funcionário americano disse que o pacote está avaliado em 375 milhões de dólares.

Biden afirmou que Zelenski lhe garantiu que não usará os caças F-16 contra alvos em território russo, o que é um dos principais temores dos americanos. "Tenho uma garantia total de Zelenski de que não vão usá-los contra a Rússia no seu território geográfico. Outra coisa é se as tropas russas estiverem dentro da área da Ucrânia", disse Biden.

Os EUA, que tem a maior frota mundial de F-16, não declararam explicitamente que vão fornecer os caças para os militares ucranianos. A formulação da Casa Branca fala em coligação de países e que ainda não está decidido quando os aviões serão fornecidos, quantos serão e quem os fornecerá. O comunicado é, porém, muito claro nas intenções, e Zelenski se mostrou seguro, em Hiroshima, de que terá os caças.

Zelenski também pretendia cortejar o chamado Sul Global, representado na cúpula por duas democracias do Brics, a Índia e o Brasil, dois países que tentam se posicionar como neutros no conflito para não desagradar a Rússia. Do premiê indiano, Narendra Modi, Zelenski conseguiu o compromisso de que a Índia fará "tudo o que for possível" para encontrar uma solução para o conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Um encontro com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não ocorreu, alegadamente por questões de agenda.

Lula participou, porém, de um sessão do G7 ao lado de Zelenski, e declarou que o Brasil condena a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia. O líder brasileiro acrescentou, porém, que "nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo".

Analistas avaliaram que Modi deu sinais de aproximação com o Ocidente na questão da guerra na Ucrânia, ao passo que Lula teria se mostrado mais reservado.

O G7 também concordou com novas sanções à Rússia para diminuir a capacidade do Kremlin de financiar a guerra contra a Ucrânia.

Tom duro contra a China

Nos debates sobre a China, que o premiê britânico, Rishi Sunak, descreveu como "o maior desafio dos nossos tempos à segurança global e prosperidade", o G7 discutiu sobretudo segurança e dependência e indicou querer adotar uma postura mais dura.

Os países do G7 não querem se dissociar da China, mas, na relação com o gigante asiático, diminuir riscos para as próprias economias, além de garantir que os direitos humanos sejam respeitados.

Biden disse que o G7 concordou sobre uma abordagem comum em relação à China e indicou que poderá em breve falar com o presidente chinês, Xi Jinping.

A declaração final deixou claro o que deve ter sido o tom dos debates. Os países do G7 concordaram em reduzir a "excessiva dependência" da China em cadeias de fornecimento críticas e em investir mais nas próprias economias.

Ao mesmo tempo, querem equiparar o terreno (level playing field) para que trabalhadores e empresas de seus países não enfrentem concorrência desleal da China.

No trecho mais polêmico, o texto final aborda a política externa chinesa em regiões como o Mar da China Meridional e Taiwan e também para a guerra na Ucrânia.

O G7 pediu a Pequim para usar sua influência junto à Rússia para pôr fim à guerra na Ucrânia, para que não tente mudar de forma unilateral o status quo no Mar da China Meridional por meio da força e coerção e para que resolva pacificamente a questão de Taiwan, a quem o grupo reiterou apoio.

A declaração do G7 pede à China "que não realize atividades de interferência" e expressa preocupações com os direitos humanos, especialmente no Tibete e na província de Xinjiang.

A China reagiu em termos duros e afirmou que o Japão, na qualidade de anfitrião, interferiu nos assuntos internos da China.

O Ministério do Exterior da China afirmou que a resolução da "questão de Taiwan é uma questão que cabe aos próprios chineses decidirem" e que Pequim "não vai permitir que forças externas interfiram" nas questões de Xinjiang, Hong Kong ou Tibete.

"O G7 persiste em manipular questões relacionadas com a China, desacreditando e atacando a China", declarou o ministério.

Acenos ao Sul Global

A simples presença de Índia e Brasil, dois dos países do chamado Sul Global, já foi um aceno dos países industrializados a essas nações. Apesar de não haver resultados concretos, a cúpula deixou claro que não basta exortar esses países a adotarem determinadas posições, mas que também é necessário ouvi-los com atenção e dar voz a eles, também em órgãos da ONU.

Foi esse o tom da intervenção de Lula, que declarou que "não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as 'crises múltiplas' que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global".

O presidente brasileiro defendeu, mais uma vez, uma reforma da ONU e suas organizações parceiras para dar mais espaço ao Sul Global. Ele também disse que os países africanos precisam ser mais bem representados em fóruns mundiais, como o G20, uma declaração que acabou refletida na declaração final de Hiroshima, na qual o G7 se compromete a "trabalhar para fortalecer a parceria com países africanos e apoiar uma maior representação africana em fóruns multilaterais".