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Após quase 8 anos, Maduro visita o Brasil e encontra Lula

29 de maio de 2023

Presidente venezuelano, que havia sido proibido por Bolsonaro de entrar no país, foi recebido no Palácio do Planalto. Após reunião bilateral, Lula defende Maduro contra "narrativa" sobre regime autoritário.

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Lula cumprimenta Maduro, acompanhado das esposas de ambos.
Lula recebeu Maduro no Palácio do Planalto, acompanhado da primeira-dama brasileira, Janja, e da esposa do venezuelano, Cilia FloresFoto: UESLEI MARCELINO/REUTERS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta segunda-feira (29/05) com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto.

É a primeira vez que Maduro vem ao Brasil desde julho de 2015, quando participou de uma cúpula do Mercosul realizada em Brasília, durante o governo Dilma Rousseff. O encontro simboliza a retomada das relações entre os dois países, que haviam sido suspensas durante o governo Jair Bolsonaro.

Maduro chegou ao Brasil no domingo e participa, na terça-feira, de uma cúpula dos presidentes da América do Sul que reunirá 11 dos 13 chefes de Estado da região. A última reunião do tipo ocorreu em 2014, em uma cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

O presidente venezuelano recebeu honras de chefe de Estado do cerimonial do governo brasileiro. Ele subiu a rampa do Palácio do Planalto, participou de uma reunião bilateral com Lula e foi em seguida recebido para um almoço no Itamaraty. Foram assinados dois atos entre os dois países, um memorando de entendimento de matéria agroalimentar e um mecanismo de supervisão da cooperação bilateral.

Lula fala em "momento histórico" e Maduro, em "relação virtuosa"

Após a reunião com Maduro, Lula disse que a visita do venezuelano era um "momento histórico" na normalização das relações entre os dois países. "É difícil conceber que tenham passado tantos anos sem que mantivessem diálogos com a autoridade de um país amazônico e vizinho, com quem compartilhamos uma extensa fronteira de 2.200 km", afirmou.

Lula também criticou o não reconhecimento de Maduro como presidente da Venezuela pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) após as contestadas eleições de 2018, nas quais o venezuelano foi reeleito.

"Briguei muito com companheiros social-democratas europeus, com governos, com pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem democracia, negarem que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o cidadão que foi eleito para ser deputado ser reconhecido como presidente", disse, referindo-se a Juan Guaidó, líder da oposição venezuelana.

Lula disse que teria sido construída uma "narrativa contra a Venezuela" e que Maduro deveria mostrar "a sua narrativa" para mudar a opinião das pessoas sobre seu regime. "Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela. Da antidemocracia, do autoritarismo. Então eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudar de opinião. (..) É preciso que você construa a sua narrativa. Eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você." 

O presidente brasileiro disse ainda que buscará um acordo para buscar uma "integração plena" entre os dois países, apesar das "dificuldades", como a dívida externa venezuelana e o combate ao narcotráfico.

Maduro, por sua vez, afirmou que a Venezuela está "de portas abertas" para os empresários brasileiros. "Estamos preparados para que retomemos as relações virtuosas com os empresários brasileiros. A Venezuela está de portas abertas, com plenas garantias para todo o empresariado para que voltemos ao trabalho conjunto."

Relações retomadas

No início do governo Bolsonaro, Brasília rompeu relações diplomáticas com Caracas, proibiu Maduro de entrar no país e reconheceu Guaidó como presidente da Venezuela.

A proibição foi revogada no final do governo Bolsonaro, em 30 de dezembro de 2022, para permitir que Maduro viesse à posse de Lula – o que acabou não ocorrendo, segundo Caracas, pois a permissão foi concedida com pouca antecedência.

Sob Lula, o governo brasileiro reabriu a sua embaixada em Caracas, e a Venezuela nomeou um embaixador para atuar no Brasil. Em março, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, foi a Caracas e reuniu-se com Maduro e integrantes da oposição.

A reaproximação com a Venezuela interessa ao governo Lula para tratar de assuntos comuns aos dois países e participar das conversas pela estabilidade política do país vizinho, que realizará eleições presidenciais em 2024.

Regime autoritário

Maduro governa a Venezuela desde 2013 e impôs um regime autoritário que encarcera opositores, ataca a liberdade de imprensa e é acusado de sistematicamente violar direitos humanos. Em 2020, uma missão de especialistas encarregada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU o acusou de crimes contra a humanidade.

Ele foi reeleito em 2018 em um pleito marcado por irregularidades e não reconhecido pelos Estados Unidos, pela UE e mais de 50 países.

Após as eleições, a oposição liderada por Guaidó formou um "governo interino", reconhecido por parte de comunidade internacional, mas não conseguiu obter o apoio dos militares e do Judiciário. Em janeiro de 2021, após a oposição perder as eleições legislativas e o controle do Parlamento, a UE deixou de reconhecer Guaidó como "presidente interino" da Venezuela.

O "governo interino" foi encerrado pela própria oposição em dezembro passado. Em abril, Guaidó, que havia sido proibido de deixar a Venezuela, foi até a Colômbia e, de lá, alegando "perseguição" contra si e sua família, pegou um voo para Miami.

Há uma mesa de diálogo entre o governo e a oposição venezuelana que ocorre esporadicamente no México. A expectativa do governo brasileiro, segundo o colunista Jamil Chade, do portal UOL, é que a eleição presidencial de 2024 dê condições legítimas para que diferentes partidos possam concorrer e que o resultado das urnas seja respeitado.

bl (ots)